segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Viagem ao Douro de Miguel Torga

Para não dizer que não falei da sexta-feira, digo que foi um dia chuvoso, atarefado e bem trabalhoso. Tive workshop o dia todo e o tempo em que estive fora da sala de aula, fiquei as voltas com o Santander, já que me deram um tal de "cartão internacional" que simplesmente não funciona porque no Brasil são 4 números e 3 letras e aqui, são 6 números... Já se pode perceber que isso não deu certo... Então, muita conversa, aborrecimento e nenhum dinheiro...(se não fosse trágico seria cômico!).


Sábado... aí sim, dia de sol e grandes emoções!



Saímos as 9:00 h da Casa Municipal da Cultura de Coimbra em direção a Trás-os-Montes. Uma atividade cuja programação foi a seguinte:







Paragem para conforto em Viseu (conforto é pra ir ao banheiro...)




Viseu é uma bela cidade, muito arborizada e arrumada. A praça, uma gracinha, cuidada para que as pessoas possam aproveitá-la e não apenas utilizá-la como um lugar de passagem.


Aqui, uma construção com um belo jardim que me chamou a tenção de como as árvores ficam próximas às casas.



Minhas companheiras de passeio. D. Anita e a neta Luciana de 8 anos, uma princesinha!



E aqui, Vivian (boliviana radicada no Brasil que está estudando em Coimbra por alguns meses) e D. Yoko, tia de Luciana.









Visita Cultural a São Martinho da Anta, lugares de vivência de Miguel Torga.

São Martinho de Anta é uma pequena cidade, muito quieta. Pertence ao Conselho de Sabrosa e possui aproximadamente 900 habitantes. Está localizada entre Sabrosa e Vila Real. 
Quase não vimos pessoas nas ruas. 
O pouco movimento e casario muito antigo, revela que o tempo corre lentamente por aqui. 
Não é possível precisar o ano de sua formação como povoado, mas registros marcam os séc. XII e XIII, contudo há outras referencias que indicam que este seja um dos povoamentos mais antigos da região.



Mas alguns amigos brasileiros podem estar se perguntando, quem é Miguel Torga?

Então vai aí um breve histórico:

Miguel Torga é o pseudônimo de Adolfo Correia da Rocha, médico formado pela Universidade de Coimbra. Com uma infância pobre, passou por casa de parentes em Portugal, pelo seminário e depois foi morar no Brasil, em Minas Gerais, com um tio cafeicultor que, vendo seu rendimento escolar, decidiu patrocinar-lhe os estudos em Coimbra.
Em 1929 publica seu primeiro livro de poesias "Ansiedade" e passa a colaborar com a Revista de arte e crítica "Presença" de ideais Modernistas. Em 1930 rompe com a revista e assume sua posição contra as injustiças sociais e abuso do poder.



Seu pseudônimo é Miguel em homenagem a Miguel de Cervantes e Miguel Unamuno (ambos ibéricos) e Torga vem do nome de uma árvore de sua regão cujas raízes fortes agarram-se ao solo árido e rochoso. Com caule reto e forme, que verga ao vento, mas não sede. Suas flores são branco-arroxeadas, ou da cor do vinho, elemento presente na agricultura local.







Casa dos pais de Miguel Torga. Não é possível visitar o interior pois, a casa pertence a sua filha que a utiliza para suas férias e não é cedida para visitação.










Rua com o nome do escritor, filho ilustre da cidade, local para onde regressava por ocasião das festas de final de ano e em setembro para a vindima.











Nesta praça, sob esta árvore que o Dr. Adolfo Correia Rocha (Miguel Torga) sentava-se ao chegar na cidade, anunciando assim, discretamente, que o médico havia chegado para atender a quem necessitasse.












A guia local nos relatou sua história enquanto visitávamos os pontos marcantes de Torga pela cidade.




Em 1940 foi preso por sua excessiva sinceridade e dentre os amigos que o ajudaram a esconder sua prisão de seus pais, estava a estudante belga Andrée Crabbé, com quem se casou e teve uma filha, Clara Rocha, atualmente docente na Universidade de Coimbra.

Torga também é amante da cidade de Coimbra onde instala seu consultório em 1939.

Extremamente ligado à sua terra natal e à sua família, fazia de São Martinho de Anta o seu refúgio.




Miguel Torga, foi escritor de poesias, contos, memórias, romances, ensaios e peças de teatro. Publicou mais de 50 livros e chegou a ser indicado para o Nobel de Literatura várias vezes. Já doente, publicou seu último livro em 1993. Avesso a publicidade política e literária manteve-se afastado da agitação desses movimentos.







Faleceu em 1995 e está sepultado numa cova simples, sem lápide, em São Martinho de Anta, onde há apenas uma torga plantada ao lado, em sua homenagem.















Após tanta história e cultura literária é hora de repasto... então passemos ao
Almoço (aí um grande parenteses para a divina culinária de Sabrosa)

Refeição típica de vindima (colheita das uvas)

NOTA: Esclareço desde já, que só deu tempo de fotografar a primeira parte das entradas, o restante, a fome não deixou...rsrsrsrs 

Então, recorri a imagens da Internet, mas procurei as que mais se assemelham ao que nos foi servido.

Cardápio:



Vinho tinto de Sabrosa
Entradas variadas (pães diversos, presunto defumado, azeitonas, alheira e chouriço)













Sopa Juliana (nosso "caldinho de feijão" com couve rasgada)












Arroz de feijão (nosso arroz com feijão, mas já misturado) 








Pataniscas de bacalhau (um tipo de bolinho, bem diferente do que conhecemos no Brasil) e














Grelhada mista (carnes de porco).










Pera Bêbeda (cozidas ao vinho do porto).







Agora que todos ficaram "aguados", podemos passar para a outra parte do passeio...rs


Visita a adega da Cooperativa de Sabrosa 




Aqui é empregado um tipo de sonda ao carregamento que chega. Assim, a acidez das uvas as classificam para o tipo de vinho, bagaceira ou vinagre a que darão origem.













Aqui as instalações da adega da Cooperativa, onde o processo de fabricação do vinho se inicia.


Equipamentos modernos de moagem, filtragem, etc. substituíram os antigos e tradicionais que agora se encontram expostos apenas para visitação histórica na sala de degustação.



A armazenagem para envelhecimento continua sendo em barris de carvalho, árvore nativa da região.



São realmente muito grandes esses barris...Não posso precisar qual a capacidade e nem qual tipo de vinho guarda cada um destes, já que o espaço era muito amplo e o grupo numeroso, eu quase não ouvia a voz da guia...
Uma pena... Mas o melhor ainda estava por vir... a degustação... rs








Prova de vinhos.


Aqui, o Porto Branco. Nunca havia experimentado e é mesmo muito bom e forte...


Neste passeio experimentamos 3 tipos:


O Moscatel
O Tinto de Mesa
O Porto Branco









Mostruário de vinhos produzidos pela Cooperativa, claro todos a venda... Pena que com meus parcos euros não pude comprar um exemplar de cada para experimentar com os amigos no Brasil...rs












Visita ao Lagar de Azeite de Sabrosa 


Aqui não achei tão legal quanto na adega... estava tudo parado e eu estava tão empanturrada do almoço que nem consegui provar o pão e queijo com azeite...rs








Da próxima vez quero ir antes do almoço...rs















O caminho...

  "Caminante no hay camino
Se hace camino  al andar..."


O Rio Douro...


A região de Trás-os Montes e Alto Douro localiza-se na porção Nordeste de Portugal Continental e compreende os Distritos de Vila Real e Bragança, além dos conselhos do Distrito de Viseu e um conselho do Distrito de Guarda. A Norte e Leste faz fronteira com a Espanha, ao Sul com as províncias de Beira Alta e a Oeste com as províncias de Douro Litoral e Minho.




O relevo é uma composição belíssima de altas plataformas onduladas e bacias profundas, características que influenciam em seu clima e vegetação. 



De modo geral apresenta muito frio nos meses de inverno e muito calor nos meses de verão, o que fez surgir o ditado de que lá há "três meses de inverno e três de inferno". 










Em geral, as chuvas são escassas o que dá ao solo maior acidez, com exceção de algumas faixas de zona úmida, mais próximas ao Rio Douro.









Há 3 sub regiões com clima e vegetação distintos: a faixa do Rio Douro, com altitude mais baixa, portanto clima sub-atlântico ou sub-mediterrâneo; faixa mais elevada de planalto, maior porção, meso-mediterrâneo inferior (sub-úmido a seco) e; o Douro superior com clima sub-mediterrâneo superior também chamado de Terras Quentes.





Desta região, são característicos castanheiros, carvalhos, oliveiras e amendoeiras, contudo esta região se destaca pela produção de uvas que são utilizadas para a produção do Vinho do Porto, azeite e mel. Também são produzidos batas e cereais como o centeio e a cevada. Há ainda nesta região criação de caprinos.


As vinhas estão por toda parte, nos terraços sustentados por muros feitos com as pedras do local, nas partes mais planas e nas baixadas mais profundas da bacia.

Muitas delas ainda com cachos bem formados de uva, folhagem verde e avermelhada indicando a época da colheita.








As grandes obras de engenharia revelam a importância econômica desta região para o país.







Aqui a hidrelétrica do Douro com a Eclusa modifica a paisagem, transforma o rio e tudo a sua volta.











Na autoestrada sobre o rio, o por do sol emoldura lugar que abriga tanto a história quanto o futuro de Portugal que tem na tradição das vinhas e dos olivais de Trás-os-Montes os elementos que vão além da economia, fazem parte da alma deste país que descobriu outros lugares no mundo e agora é redescoberto.







As cores do céu no poente são de uma singularidade estarrecedora, com tons de azuis e lilases adornados com réstias de dourado que mais parecem uma pintura.

Não há como não se encantar com o que os olhos veem a alma contempla...





Paragem no Miradouro de São Leonardo de Galafura













No mirante, nem as muitas horas de passeio são capazes de impedir a subida desta colina. 









Nenhum esforço é o bastante para impedir de admirar um dos entardeceres mais incríveis que já vi.


 Diante destas imagens, se não posso dizer versos a altura do que vejo é melhor calar...







...Apenas admirar o que minhas palavras não têm como descrever o que o próprio Miguel Torga chama de "País das Maravilhas".











Retorno para Coimbra (com paragem de emergência para conforto).rs...


PS:


Aqui, um profundo e sincero agradecimento à D. Anita que me proporcionou uma das mais belas experiencias da minha vida!

OBRIGADA.












Um comentário:

  1. já vi.. que lindo passeio.. e ainda bem.. que havía paradas para Conforto.. rsrsrsrrsrs... tchê... mas porque não me respondes no bate papo?? a cri e eu,, já estávamos preocupadas.. achando que tu tinhas morto de fome.. só com tuas moedinhas.. no final de semana.. rsrsrsrrss... vê se manda noticias.... beijo, alis

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